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Luz Oculta é o décimo segundo álbum autoral do violeiro, compositor e artesão de instrumentos Levi Ramiro. Lançamento físico e pela Tratore, em todas as plataformas digitais
Das dez canções do álbum, duas delas são regravações, Voa Leve e Sossego de riacho, as demais são inéditas.
Tem parcerias com Bené Fonteles, Consuelo de Paula, Fernando Guimarães e Paulim Amorim.
O álbum é dedicado ao Mestre Vidal França e o poeta parceiro Paulim Amorim. (ambos em memória).
Textos de apresentação Bené Fonteles e Consuelo de Paula e demais textos Levi Ramiro.

Luz Oculta

01- Meu reino por um cavalo (Levi Ramiro)
02- Tião e Malaquia (Levi Ramiro)
03- Meu amor não (Levi Ramiro/Consuelo de Paula)
04- Função de capina (Fernando Guimarães/Levi Ramiro)
05- Voa leve (Levi Ramiro)
06- Fartura (Lev” Ramiro)
07- Sossego de riacho (Levi Ramiro)
08- Viola vadia (Levi Ramiro/Bené Fonteles)
09- Benedita, Iracema e Sinhá (Levi Ramiro)
10- Miração (Levi Ramiro/Paulim Amorim)

Ficha técnica
Gravado nos dias 15 e 17 de Fevereiro de 2022, estúdio Criasom Bauru SP. Captação, mixagem e masterização: Josiel Rusmont. Todas as músicas gravadas com voz e viola juntas, algumas acrescidas de outras linhas de viola. Violas utilizadas: Viola de cabaça – artesão Levi Ramiro e Viola Trevo três bocas – luthier Luis Armando Arte gráfica: Rebeca Freitas. ’ ’ Fotos: Levi Ramiro. Foto capa: Teresa Ludgero

Mesmo acostumado a preservar meus momentos de solidão, mais pra solitude, de criação, compondo e construindo instrumentos, experimentar hoje a solidão nesta pandemia, a reclusão, o medo, o mergulho em redes sociais, os conflitos e etc. fez com que nascesse em mim uma outra percepção sobre estar só. Longe das muitas amizades musicais, de pessoas queridas, tendo praticamente a viola como companheira, senti o tanto que a conversa com ela foi ficando mais intima, mais intensa, ainda mais presente e até mais segura. Acreditando na verdade deste momento, resolvi arriscar fazer, à minha maneira, o que seria um dueto com a viola, uma prosa singela, uma busca de interiorizar os sentimentos, aflorar memórias, reflexões e tudo mais. A viola, a música, me ajuda a encontrar essa luz oculta, a ficar longe das sombras. Sim, buscar a luz, sentir o sol e o vento, silenciar desejos, perceber o amor nos gestos, valorizar as amizades, fortalecer-me no frágil, ver o divino nos detalhes e encontrar tanto no que muitas vezes aparenta ser tão pouco.

Luz Oculta é um lampejo, um desejo de estar mais conectado com essa casa linda chamada planeta Terra, celebrar a arte e a poesia da vida, em personagens humanas como Seo Toinho rezador de cobra, Lubisome mestre na arte do couro, os violeiros Tião e Malaquia, as mães originais Benedita, Iracema, Sinhá e tantas mais almas lindas deste Brasil profundo.

Levi Ramiro / Pirajuí, Março de 2022.

contatos Levi Ramiro: 14-997021781
www.leviramiro.com.br
[email protected]
@levi.ramiro

O ponteio sensitivo da viola de Levi acorda-nos para uma natureza paralela onde temos ainda muito a ter sonhos e florir… junto dos ponteios um cantador que tem dialeto casadinho às cordas que atina e ousa… atreve-se a desafiar testemunhar a verdade e sinceridade que poucos conhecem e revelam… sua alma vasta verte feito nascente do não cessa faz-se infinda… parceira leal de um sertão que se extingue na geografia e paisagem engolida pelo urbano mas que ainda habita muita gente que tem sabedoria de ser gente com alma intrépida e desnuda… fala uma gostosa linguagem que Guimarães Rosa deu de voz a Riobaldo encantado não só por Diadorim, mas por um sertão que ela era toda sendo macho e fêmea de sua paixão velada… porque o sertão não está só oculto dentro do gênero humano e não é bioma que se confie uma nomeação rasa pois nada dá nome a tez da imensidão… o sertão que Levi pronuncia é um Ser que apreendeu tão todo aninhado no cantinho do sentimento pelo belo no justo e pelo vasto no digno… quando a viola feita pelo mesmo faz da cabaça virgem bojo e dá vida a sons que ninguém ousa lutiar… deixa gente admirada como Egberto Gismonti – a quem dei um instrumento desse inusitado – e que ainda hoje seu gênio que é tanto… tenta decifrar tudo de sons que lá não cabe dentro do seu bojo e timbres de cordas sem limites… dentro dos corpos sonoros que molda com maestria rara como os artesãos medievais mouros arfam as raras harmonias que aprendeu a se tocar mais do que… Levi descobriu como Gismonti com Sapain o pajé Walapity que lhe iniciou na flauta sagrada Jacui que um instrumento toca Espírito e não a música… assim Levi tira da viola o que ela nem tem para tocar-nos e põe onde nem cabe sons em nosso tosco imaginário… a poética sonora que cria e casa nos poemas que recria dos parceiros são só pra deixar de serem mais que palavras e sim o encanto eterno do que pode ser soar o Ser numa canção… neste disco tão solo e íntimo de tão seu e da viola há o seu canto nu eivado de uma pureza original nativa… nela sonhamos o que desejamos nunca se perca dos nossos reais sentimentos assombrados tornados mais invisíveis que o que verte a vã realidade dos mundos… sua solitude amiga da viola e canto lhe devolve não só o juízo mas põe lucidez no pleno da sua vida de tanta lealdade cabocla mestiça mameluca… música como instrumento de Vida e veio de uma claridade da sonoridade ímpar irmã de cuia e cabaça… tira o cabaço com prazer de gozo e põe a alegria como do santo enfeitado para andor pelas mãos da beleza caipira…
OH! Levi de onde tirastes o mistério desta viola que viola as leis das ressonâncias mouras e ibéricas?
Onde vais dos cafundós da Índias orientais pelo violar de sitar e depois pela viola alaúde para moldar a voz dos trovadores dos quais também és uma das fontes e vozes?
Onde tu vais posto a uma feira do Nordeste como a fera indomada da poesia e do repente de um Cego Aderaldo ponteando o ser universal caboclo que só a alma brasileira vibra e veste?
Levi não sabe de nada ainda da viola que sempre o surpreende na tocaia das veredas instrumentais… sempre a re-toca fazendo da última criada uma criada da música verdadeira de sentido de Vida madura nascente e nata… quanto mais a viola o toca mais ela sabe de tudo dele oculto e vasto e que Levi tem meios mas nem fins nem começos… urge ouvi-lo como quem está nu e ainda não sabe….

Bené Fonteles, Caldas / MG,março de 2022.

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Parece que a sua Luz Oculta entra na casa de quem escuta como se fossem nove raios misteriosos. Entraram pelas frestas de um arco criado entre a viola, a voz e o corpo de quem está em contato com a sua harmonia.
Nove segredos que se revelam com a magia que só grandes violeiros sabem provocar. Sua música é arte absolutamente contemporânea e universal: a sofisticação dos seus acordes, a técnica com a qual executa esse instrumento, suas composições que revelam seu lugar, suas paisagens e seu tempo. Luz Oculta é pérola, girassol, borboleta, trem de ferro que faz viagem presente entre o passado e o futuro. Carro de boi, cavalo, vagalume, avião e nave. Tudo passando enquanto a viola emana seu brilho. Passam lembranças, ideias, sonhos. Tudo passa, mas o amor permanece na sala, entre os nove rastros deixados pelos feixes luminosos do seu som.

Consuelo de Paula, São Paulo / SP, março de 2022